FABACEAE

Caesalpinia echinata Lam.

Como citar:

Tainan Messina; Miguel d'Avila de Moraes. 2012. Caesalpinia echinata (FABACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

EN

EOO:

530.380,807 Km2

AOO:

360,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Endêmica do Brasil nas Regiões Nordeste (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas) e Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro) (Lewis, 2012). Lira et al. (2007) reconhecem três regiões em que há maior similaridade interna e baixo fluxo genético entre elas, uma característica da história natural da espécie. Estas regiões podem ser agrupadas pelos Estados: Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco; Alagoas, Bahia e Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Situações de ameaça (Location): Rio Grande do Norte: extremo sul perto de Cabo de Touros; Paraíba (Mamanguape e Camaratuba); Pernambuco (São Lourenço da Mata até Vitória de Santo Antão, Nazaré da Mata; Alagoas: Tracunhaém, Pau d'Alho, Timbaúba, Goiana, Junqueira; Bahia: Porto Seguro, Eunápolis, Itamaraju, Barrolândia, Jussari, Ipiau; Espírito Santo: Aracruz, Caraíva, Camacã, Guaratinga, Pau-Brasil, Ubaitaba, Tapera; Rio de Janeiro: Cabo Frio, Búzios, São Pedro da Aldeia, Araruama, Iguaba, Saquarema, Itaipuaçú, Rio de Janeiro (CITES, 2007 apud Mejia; Buitrón, 2008).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2012
Avaliador: Tainan Messina
Revisor: Miguel d'Avila de Moraes
Critério: A4acd
Categoria: EN
Justificativa:

O pau-brasil é uma espécie de grande importância econômica com histórico de mais de 500 anos de exploração. É típica da Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do mundo, e ocorre em Floresta Estacional Semi-decidual, Floresta Ombrófila Densa e em Restingas, ambientes que vêm sendo severamente degradados desde a colonização até os dias de hoje, o que causou um intenso declínio na qualidade do hábitat, na EOO, AOO e a extinção de subpopulações. Essas extinções locais foram responsáveis pela fragmentação da espécie, que passou a apresentar distribuição agregada, causando redução da variabilidade genética, com fluxo gênico cada vez menor entre as subpopulações. Apesar da extração da madeira para o mercado de corante ter cessado em meados de 1800 devido à produção de corante sintético, a extração da madeira para confecção de arcos para violino ganhou notoriedade. A demanda de uso é conhecida no passado e projetada para o futuro, estimando-se uma redução populacional de pelo menos 50% em 100 anos (pretérita e futura), pois a qualidade do arco feito com madeira de pau-brasil é considerada insubstituível. De acordo com dados disponíveis, a demanda anual da espécie é de 200 m³, o que permite estimar que de 125 a 1.131 indivíduos maduros (variando de acordo com o porte) estejam sendo retirados da natureza. Mesmo constando no Anexo II da Cites, a pressão do uso da madeira da espécie pode aumentar consideravelmente com o incremento da produção industrial em larga escala a partir da entrada de países como a China no mercado. Embora o cultivo tenha sido iniciado em algumas das localidades de ocorrência da espécie, sua população não pode ser considerada estável, pois as principais ameaças (exploração e perda do hábitat) não cessaram. Para que a espécie possa ser conservada, faz-se necessária a criação de unidades de conservação (SNUC) nas áreas de ocorrência, acompanhada de fiscalização, pesquisa e manejo, norteados por um Plano de Ação Nacional para o pau-brasil.

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Nomes populares: "pau-brasil", "pau-de-pernambuco", "ibirapitanga", "orabutã", "brasileto", "ibirapiranga", "ibirapita", "ibirapitã", "muirapiranga", "pau rosado", "pau vermelho", "árvore do brasil" (Lorenzi, 2002; IPEF, 2012). A espécie compreende pelo menos três ecótipos diferentes, que mostram diferença nas folhas (fórmula foliar, forma de folíolo e tamanho ) e na estrutura anatômica da madeira. Estudos genéticos recentes comprovaram essas diferenças anatômicas e morfológicas entre as subpopulações, embora até o momento nenhuma subespécie ou variedade foi oficialmente reconhecida (Fundação Margaret Mee, 1997). Popularmente essa variação é conhecida como "pau-brasil" de folha pequena, média e grande, essa última também sob o nome de "pau-brasil de folha laranja". Estudos recentes em cinco áreas de ocorrência natural de C. echinata nos Estados do Espirito Santo, Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte detectaram notável diferença genética, pois 36% da variação total foi atribuída a diferenças geográficas entre as regiões, 55% a diferença entre subpopulações dentro de regiões e apenas 8,94% entre os indivíduos de uma subpopulação (Lira et al., 2007).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: Construção, carvão, resina, arborização urbana; melífera; paisagismo, madeira nobre. Na época colonial era extraído um corante, muito utilizado para tingir tecidos. A madeira, de coloração avermelhada, é atualmente muito utilizada na fabricação de arcos de violinos (IPEF, 2012). É a única madeira conhecida capaz de atender as propriedades de arcos e produzir efeitos únicos, não encontrado em nenhuma outra madeira ou material. Há iniciativas de produção em plantios junto a cabruca (Julianoet al., 2010).

População:

Flutuação extrema: Desconhecido
Detalhes: Estudos fitossociológicos que apresentam valores de densidade para a espécie são escassos. Peixoto et al. (2005) encontraram 37 indivíduos por hectare, em fragmento de 80 ha no Estado do Rio de Janeiro. Andrade; Rodal (2004) encontraram uma densidade de 59 ind./ha em fragmento florestal de 80,7 ha em Pernambuco. O Programa Pau-Brasil registrou 1669 árvores nativas de "pau-brasil" em subpopulações com regeneração natural esperada (Mejia; Buitrón, 2008).

Ecologia:

Biomas: Mata Atlântica
Fitofisionomia: Floresta estacional semidecídua, floresta ombrófila densa e restinga (Lima et al., 2009).
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland
Detalhes: Árvores 4-20 m alt, 15-45(-70) cm DAP (CNCFlora, 2012), semidecídua ou decídua, heliófila ou esciófila de terrenos baixos e bem drenados (Mejia; Buitrón, 2008). Floração: setembro a dezembro. Frutificação: outubro a janeiro. Floresce anualmente coincidindo com a perda total das folhas, na estação seca, durante cerca de duas semanas, a antese é diurna e a flor tem duração de um dia. Auto-incompatível de ação tardia, mas apresenta auto fertilização espontânea, por isso muitos frutos não desenvolvem sementes viáveis. Dispersão das sementes no início da estação úmida (Borges et al., 2009).

Ameaças (3):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1 Habitat Loss/Degradation (human induced) national very high
A taxa anual de desmatamento no período 2002 a 2008 foi de 457 km², restando atualmente menos de 22,25% de áreas remanescentes de Mata Atlântica (MMA; IBAMA, 2010).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Agriculture national very high
Desmatamento na Mata Atlântica.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3.3.2 Selective logging national very high
O extrativismo e exportação do "pau-brasil" ocorre há cinco séculos e resultou na perda de grandes áreas de floresta e pela escravização do povo local. O corte seletivo foi inicialmente motivado pelo corante vermelho extraído de sua madeira e teve queda com o desenvolvimento de corantes sintéticos para substituí-lo que se tornou disponível em 1875, mas o declínio dramático da população na árvore já tinha acontecido, e esses declínios continuaram até a década de 1920. Povoamentos naturais foram quase completamente destruídos, mas algumas subpopulações persistiram em algumas áreas da planície costeira, onde desde então têm sofrido pelo desmatamento. Mesmo após o corante ter sido substituído por alternativas sintéticas, a exploração da madeira continuou. A madeira é muito procurada por fabricantes de arcos de violino, devido a características únicas e ainda insubstituíveis. Não há números confiáveis sobre a quantidade de madeira exportada atualmente, mas a demanda mundial anual é superior a 200 m³. O problema é exacerbado pelo nível elevado de madeira desperdiçada durante o processamento; entre 70-80 por cento é perdido na fabricação de arcos de violino (Global Trees Campaign, 2008).

Ações de conservação (4):

Ação Situação
1.2.1.2 National level on going
Presente na Lista vermelha da flora do Brasil (MMA, 2008),anexo 1.
Ação Situação
1.2.1.1 International level on going
"Em perigo" segundo a Lista vermelha IUCN (2011), avaliada por Varti em 1998.
Ação Situação
1.2.1.1 International level on going
Incluída na lista da CITES, apêndice II em 1997. Toras, madeira serrada, folheados, e na fabricação de arcos para instrumentos musicais de cordas.
Ação Situação
4.4 Protected areas on going
Encontrada nas seguintes unidades de conservação (SNUC): Parque das Cidades, Parque das Dunas; RPPN Mata Estrela, Rio Grande do Norte; Estação Ecológica do Pau-Brasil, Reserva Biológica Guaribas, Paraíba; Estação Ecológica do Tapacurá, Pernambuco; Estação Ecológica Serra do Ouro, Alagoas; Parque Nacional do Pau Brasil, Bahia; Parque Estadual da Serra da Tiririca, Reserva Ecológica Estadual de Jacarepiá, APA da Serra da Capoeira Grande, Reserva Ecológica Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro.

Ações de conservação (4):

Uso Proveniência Recurso
Madeireiro
No passado a espécie foi muito utilizada na construção civil e naval e trabalhos de torno (Lorenzi, 2002).
Uso Proveniência Recurso
Confecção de ferramentas e utensílios
A madeira é usada para confecção de arcos de violino (Lorenzi, 2002).
Uso Proveniência Recurso
Confecção de ferramentas e utensílios
A espécie produz um corante denominado "brasileína", extraído do lenho e muito usado para tingir tecidos e fabricar tinta de escrever. A sua exploração intensa gerou muita riqueza ao reino e caracterizou um período econômico de história do Brasil, o que estimulou a adoção do nome ao nosso de origem (Lorenzi, 2002).
Uso Proveniência Recurso
Ornamental
A espécie é usada no paisagismo (Lorenzi, 2002).